Fundos temáticos: vale a pena investir em tendências globais de longo prazo?

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O mercado de investimentos vem passando por transformações aceleradas, impulsionadas por avanços tecnológicos, mudanças sociais e crescente preocupação com a sustentabilidade. Nesse contexto, os fundos temáticos têm ganhado relevância como alternativa estratégica para investidores que desejam alinhar seus portfólios às megatrends globais de longo prazo.

De acordo com relatórios da PwC e da Morningstar, o volume global de ativos em fundos temáticos ultrapassou os US$ 800 bilhões em 2023, e a expectativa é de que esse número cresça de forma consistente até 2030, acompanhando o fortalecimento de temas como Inteligência Artificial, transição energética e saúde digital.

Neste artigo, a MGC Holding traz um panorama sobre os fundos temáticos, destacando suas características, vantagens, riscos e recomendações estratégicas sobre a forma de explorar tendências globais de longo prazo.

O que são fundos temáticos?

Os fundos temáticos são uma modalidade de fundo de investimento que busca alocar recursos em empresas e ativos diretamente relacionados a tendências estruturais de longo prazo. Diferentemente de fundos setoriais — que concentram sua estratégia em apenas um setor, como energia ou tecnologia — os fundos temáticos transcendem setores, reunindo em um único portfólio companhias de diferentes indústrias que se beneficiam de uma megatrend global

Um exemplo prático: um fundo temático de Inteligência Artificial pode incluir empresas de software, fabricantes de chips, provedores de serviços de nuvem, companhias de robótica e até mesmo organizações de saúde digital que aplicam IA em diagnósticos. A lógica é simples: embora pertençam a setores distintos, todas essas empresas compartilham a mesma força motriz — a expansão da Inteligência Artificial.

Quais os tipos de fundos temáticos?

Em linhas gerais, os fundos temáticos partem da ideia de capturar valor em torno de tendências estruturais que movimentam economias, transformam sociedades e moldam os investimentos globais.

Pense em temas frequentemente presentes no noticiário:

Criptomoedas, diante de relatos de investidores que obtiveram bons resultados ao apostar nesse mercado emergente.

Indústria armamentista, impulsionada pela baixa perspectiva de um cenário global livre de conflitos.

Defesa do clima e do meio ambiente, associada ao avanço das práticas de sustentabilidade e à transição para uma economia verde.

Ao investir em fundos temáticos, o investidor não está comprando apenas ações de um setor isolado, mas sim participando de uma carteira diversificada construída em torno de uma megatrend reconhecida e validada pelo mercado.

Entre os tipos mais comuns de fundos temáticos:

Tecnologia e Inovação: fundos que reúnem empresas ligadas a inteligência artificial, robótica, 5G, big data e biotecnologia.

Sustentabilidade e ESG: voltados para energias renováveis, mobilidade elétrica, reciclagem e gestão sustentável de recursos naturais.

Saúde e Longevidade: focados em empresas de biotecnologia, farmacêuticas, telemedicina e cuidados para envelhecimento populacional.

Criptomoedas e Blockchain: exposição a ativos digitais e empresas que desenvolvem soluções em blockchain.

Infraestrutura Global: investimentos em empresas ligadas à construção de cidades inteligentes, transporte e modernização logística.

Defesa e Segurança: companhias que atuam na indústria bélica, segurança cibernética e defesa nacional.

Cada tipo de fundo temático reflete uma narrativa global de transformação e pode ser usado de forma estratégica para complementar uma carteira diversificada, sempre considerando perfil de risco e horizonte de investimento de longo prazo.

Fundos temáticos no mercado brasileiro

No Brasil, os fundos temáticos começaram a ganhar maior visibilidade nos últimos cinco anos, impulsionados pelo crescimento da indústria de fundos de investimento, que já administra mais de R$ 8 trilhões em ativos sob gestão (Anbima, 2024).

Embora ainda representem uma fatia menor quando comparados a fundos multimercados ou de renda fixa, os fundos temáticos vêm atraindo investidores interessados em diversificação internacional e em se expor a tendências que não estão totalmente refletidas no mercado doméstico.

Gestoras nacionais, muitas vezes por meio de parcerias com casas internacionais, têm ampliado a oferta de fundos ligados a:

  • Tecnologia e inovação (IA, 5G, cibersegurança);
  • Transição energética e ESG (energias renováveis, eficiência energética, mobilidade elétrica);
  • Saúde e longevidade (biotecnologia, saúde digital, envelhecimento populacional).

Esses produtos oferecem ao investidor brasileiro a oportunidade de acessar, em reais e de forma regulada pela CVM, setores e empresas globais que dificilmente estariam disponíveis via Bolsa de Valores local (B3).

Diferença entre fundos temáticos e tendências de curto prazo

É importante destacar que os fundos temáticos não se baseiam em modismos passageiros, mas em transformações estruturais que têm potencial de impactar economias inteiras por décadas.

Ao contrário de submeter-se a movimentos momentâneos do mercado — como a valorização impulsionada por notícias sobre um ativo ou um setor específico— os fundos temáticos são construídos sobre fundamentos sólidos, que refletem mudanças profundas na sociedade, na tecnologia e na economia global.

A gestão desses fundos exige pesquisa aprofundada, visão global e seleção criteriosa dos ativos que realmente têm condições de capturar o crescimento dessas transformações. Isso significa que não basta acompanhar o “hype” do mercado: é preciso avaliar quais empresas reúnem modelos de negócio sustentáveis, capacidade de inovação e solidez financeira para se beneficiar dessas tendências no longo prazo.

Fundos temáticos X fundos tradicionais

A principal diferença entre os fundos temáticos e os fundos tradicionais (como multimercados, setoriais ou de renda fixa) está no foco da estratégia de investimento.

Os fundos de investimento tradicionais funcionam como uma reunião de investidores interessados em apostar em determinado setor ou ativo. Já os fundos temáticos direcionam recursos para empresas focadas em uma tendência específica, muitas vezes ainda em fase de consolidação. Ou seja, a performance do fundo depende diretamente do desempenho das empresas que compõem o portfólio e de sua capacidade de se manterem relevantes dentro daquela tendência.

Um bom exemplo é o crescente interesse por fundos temáticos de ESG (Environmental, Social and Governance — ambiental, social e governança). Esses fundos investem exclusivamente em empresas que adotam práticas responsáveis em relação ao meio ambiente, à gestão corporativa e ao impacto social. Outro exemplo são os fundos voltados para criptomoedas, em que os ETFs (Exchange Traded Funds) aparecem como os principais veículos de acesso para investidores que desejam se expor a esse mercado.

Assim, os fundos temáticos podem abranger diversos focos, desde tecnologias emergentes até causas socioambientais, oferecendo ao investidor a possibilidade de alinhar seus recursos com suas convicções sobre o futuro.

Confira as principais diferenças entre os fundos tradicionais, setoriais e temáticos:

  • Fundos tradicionais buscam retornos por meio de estratégias mais amplas, seja diversificando em múltiplos setores e geografias (multimercados, fundos de ações amplos), seja priorizando a segurança e liquidez (fundos de renda fixa).
  • Fundos setoriais concentram recursos em um único setor da economia, como saúde, tecnologia ou energia, ficando sujeitos aos altos e baixos daquela indústria específica.
  • Fundos temáticos, por sua vez, não se limitam a um setor, mas a uma tendência de longo prazo que pode abranger diferentes indústrias. Um fundo de “transição energética”, por exemplo, pode investir em fabricantes de carros elétricos, produtores de baterias, empresas de energia solar e companhias de logística sustentável.

Em resumo, enquanto fundos tradicionais focam em classes de ativos ou setores específicos, os fundos temáticos estão ancorados em megatrends globais — movimentos estruturais que têm potencial de transformar economias e sociedades.

Quais os riscos e vantagens oferecidos pelos fundos temáticos?

Assim como qualquer modalidade de investimento, os fundos temáticos apresentam tanto vantagens quanto riscos, que precisam ser cuidadosamente avaliados antes da tomada de decisão. Entender esses aspectos é fundamental para o investidor que deseja alinhar sua estratégia às tendências globais de longo prazo.

Quais vantagens de investir em fundos temáticos?

Uma das principais vantagens dos fundos temáticos é a clareza de sua proposta. O investidor sabe exatamente em qual tendência seu patrimônio será aplicado, seja em criptomoedas, energias renováveis, inteligência artificial ou saúde digital. Isso facilita a compreensão e o acompanhamento do desempenho do fundo.

Outra vantagem é que esses fundos geralmente possuem um horizonte de longo prazo, o que pode reduzir a volatilidade no curto prazo. Como a maioria dos investidores que escolhe fundos temáticos tem foco em crescimento futuro, há menos movimentações especulativas, evitando oscilações bruscas nas cotas.

Além disso, fundos temáticos permitem acesso indireto a mercados inovadores ou alternativos. Por exemplo, enquanto investir diretamente em criptomoedas pode parecer arriscado ou complexo para muitos, alocar recursos em um fundo temático voltado a esse setor oferece maior segurança e gestão profissional.

Quais os riscos a serem considerados ao investir em fundos temáticos?

Apesar dos benefícios, os fundos temáticos também apresentam riscos que não podem ser ignorados. O mais relevante é o risco atrelado aos ativos e mercados escolhidos. Como muitos desses fundos investem em setores inovadores ou alternativos, eles podem sofrer com fortes oscilações ou até com a perda de relevância do tema no futuro.

Outro ponto importante é o risco de concentração. Quando o fundo temático é muito restrito, o patrimônio pode acabar ficando excessivamente exposto a poucos ativos ou empresas. Isso aumenta a vulnerabilidade do fundo a eventuais quedas de desempenho. A diversificação dentro do tema, portanto, é essencial para mitigar esse risco.

Por fim, é preciso considerar que nem todas as tendências globais se consolidam. Algumas podem perder força ou não alcançar o impacto esperado, afetando diretamente a performance do fundo. Por isso, é recomendável que o investidor mantenha os fundos temáticos como parte complementar (satélite) da carteira, sem substituir os ativos de base mais diversificados.

Para quem os fundos temáticos são indicados?

Os fundos temáticos não são adequados para todos os perfis de investidor. Eles costumam se encaixar melhor em estratégias específicas:

  • Investidores com visão de longo prazo: como megatendências levam anos para se consolidar, esses fundos são mais indicados para quem não espera ganhos imediatos, mas sim crescimento consistente ao longo de décadas.
  • Quem busca diversificação internacional: muitos fundos temáticos incluem empresas globais, permitindo ao investidor brasileiro acessar ativos fora da B3 de forma simples, sem a necessidade de investir diretamente no exterior.
  • Investidores alinhados a valores ou convicções: perfis que desejam associar seus investimentos a causas, como sustentabilidade (ESG), saúde, inovação ou tecnologia de ponta, encontram nos fundos temáticos um caminho alinhado a esse propósito.
  • Alocação complementar (satélite): os fundos temáticos raramente devem compor o “núcleo” de uma carteira. Eles funcionam melhor como uma parcela menor e estratégica do portfólio, ajudando a aumentar a diversificação e a exposição a tendências de alto crescimento.

Ou seja, os fundos temáticos podem ser uma alternativa válida dentro de uma estratégia de diversificação, mas exigem cuidado redobrado. Como estão ligados a tendências globais de longo prazo, eles podem oferecer boas oportunidades de valorização, ao mesmo tempo em que carregam maior volatilidade por se tratar de ativos menos convencionais.

Por isso, são recomendados para investidores que já tenham uma base consolidada em outras aplicações e desejem destinar uma parcela menor do portfólio a esse tipo de aposta estratégica.

A MGC Holding

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