Desafios globais: como reagir ao tarifaço e à alta de juros nos EUA

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Em meio a um cenário internacional instável, investidores brasileiros enfrentam dois grandes desafios vindos do exterior. Não bastasse o tarifaço do presidente Trump ter contemplado o Brasil com as maiores de todas as taxas de importação, o Federal Reserve (o banco central americano) manteve a taxa de juros básicos entre 5,25% e 5,50%, uma das mais altas em tempos de paz (se é que assim podem ser chamados os dias de hoje no cenário global, com os conflitos na Ucrânia e na Palestina).

Ao desacelerar a economia e aumentar a volatilidade nos mercados globais, a alta de juros nos EUA tem impacto também no Brasil, evidenciado na queda do Ibovespa e na alta do dólar. Alta que pode, também, levar à saída de investimentos do Brasil, em busca de ativos atrelados ao dólar.

Continue a leitura e entenda de que forma os recentes acontecimentos mundiais contribuem para um ambiente de incertezas que exigirá atenção redobrada do investidor brasileiro.

Tarifaço americano: o Brasil no centro da tensão comercial

Recentemente, o governo dos Estados Unidos, sob liderança do presidente Donald Trump, retomou medidas protecionistas e incluiu o Brasil entre os países mais afetados por novas tarifas de importação.

As alíquotas impostas são as mais elevadas entre todas as nações impactadas, o que pode prejudicar setores estratégicos da economia brasileira e reduzir a competitividade de nossas exportações.

Alta de juros nos EUA e seus reflexos no Brasil

As decisões dos principais bancos centrais do mundo — como o Federal Reserve (EUA) e o Banco Central Europeu — não afetam apenas suas economias domésticas. Quando essas instituições elevam as taxas de juros, os efeitos se espalham rapidamente por mercados emergentes, como o Brasil.

Ao manter a taxa de juros básicos entre 5,25% e 5,50%, o Federal Reserve sinaliza a intenção de conter pressões inflacionárias nos Estados Unidos. Embora eficaz para desacelerar a economia americana, essa medida também gera efeitos colaterais em mercados emergentes como o Brasil.

A conseqüência imediata se reflete na alta do dólar e na queda do Ibovespa, além do risco de fuga de capitais — com investidores globais buscando ativos mais seguros e rentáveis, como os próprios títulos americanos. Isso pressiona a economia brasileira e aumenta a volatilidade no mercado doméstico.

Como os juros globais afetam os investimentos no Brasil

A elevação das taxas de juros em economias desenvolvidas, como Estados Unidos e Europa, provoca um efeito dominó nos mercados emergentes.

Investidores institucionais, sempre em busca de melhor relação entre risco e retorno, tendem a realocar recursos para ativos atrelados a moedas fortes e juros mais altos — especialmente quando os riscos geopolíticos aumentam.

No caso do Brasil, essa dinâmica pode provocar:


  • Saída de capital estrangeiro da bolsa e dos títulos públicos, pressionando o câmbio e contribuindo para a valorização do dólar;

  • Aumento do custo de captação para empresas e governo, encarecendo investimentos e afetando o crescimento econômico;

  • Revisão nas políticas monetárias locais, com possível elevação da taxa Selic para manter o diferencial de juros e conter a inflação importada.

Além disso, a expectativa de juros elevados por mais tempo tende a aumentar a aversão ao risco, o que favorece ativos mais conservadores e moedas fortes. Para o investidor brasileiro, esse cenário exige atenção redobrada à composição da carteira, com foco em diversificação, proteção cambial e exposição global.

Como se proteger em tempos de incerteza

Em contextos como o atual, proteger-se não significa necessariamente adotar uma postura puramente defensiva, mas estrategicamente resiliente: uma carteira que seja capaz de atravessar momentos de alta volatilidade, sem comprometer o crescimento no longo prazo.

A seguir, alguns pilares essenciais dessa estratégia de proteção de portfólio:

– Diversificação inteligente: o princípio básico da resiliência

Diversificar é mais do que distribuir recursos entre renda fixa e variável — é pensar globalmente e agir de forma estratégica, considerando diferentes geografias, setores e moedas. Em um cenário em que uma economia desacelera enquanto outra se recupera, como ocorre atualmente entre EUA e China, o equilíbrio entre ativos locais e internacionais pode suavizar perdas e capturar oportunidades de diferentes ciclos econômicos.

A diversificação inteligente também considera a correlação entre os ativos: ativos que tendem a se mover em direções opostas ou independentes podem compensar a volatilidade uns dos outros, tornando o portfólio mais estável.

– Ativos de proteção: mais do que um “porto seguro”

Certos ativos historicamente cumprem bem o papel de amortecer os choques do mercado:

  • Títulos do Tesouro Americano: considerados o padrão global de segurança, esses papéis ganham ainda mais relevância em tempos de juros altos e incerteza. É possível acessá-los por meio de ETFs e fundos internacionais.
  • Ouro: amplamente reconhecido como reserva de valor, tende a se valorizar em momentos de crise, inflação ou desvalorização cambial. É uma proteção clássica contra instabilidades estruturais.
  • Moeda forte (dólar): manter parte do patrimônio dolarizado, seja por meio de fundos, ações estrangeiras ou câmbio direto, é uma forma de se proteger contra choques cambiais e preservar o poder de compra.

Esses ativos não necessariamente entregam altos retornos no curto prazo, mas são cruciais para reduzir riscos e preservar capital — especialmente em cenários em que a volatilidade ganha força.

– Liquidez e oportunidade: o poder de reagir rapidamente

Outro ponto muitas vezes negligenciado em tempos incertos é a liquidez da carteira. Ter recursos disponíveis em aplicações de curto prazo ou facilmente resgatáveis permite aproveitar oportunidades pontuais que surgem em momentos de correção intensa — como ações de empresas sólidas que ficam temporariamente descontadas, ou títulos indexados à inflação que passam a oferecer prêmios interessantes.

Em mercados incertos, quem tem liquidez tem vantagem competitiva.

– Gestão ativa e disciplina emocional

Mais do que nunca, a gestão ativa — baseada em análise constante de cenário, rebalanceamento periódico da carteira e agilidade na tomada de decisão — se torna essencial. Em paralelo, é preciso reforçar a disciplina emocional, evitando movimentos impulsivos em resposta a ruídos de curto prazo.

Ter um plano de investimentos bem estruturado, com metas claras e tolerância ao risco bem definida, permite atravessar períodos turbulentos com mais confiança e consistência.

– Acompanhamento próximo e informação qualificada

Por fim, tempos de incerteza exigem acesso a informação confiável e atualizada. Acompanhar decisões de bancos centrais, indicadores econômicos globais e movimentos políticos ajuda a antecipar tendências e ajustar a estratégia antes que os impactos cheguem com força ao mercado local.

Investidores mais atentos e bem-informados tendem a proteger melhor seu capital — e, frequentemente, saem fortalecidos dos períodos de instabilidade.

Aposta na China: retomada pode beneficiar o Brasil

Após um ciclo de forte desaceleração entre 2020 e 2023 — motivado por lockdowns prolongados, crise no setor imobiliário e instabilidade no consumo interno — a China volta a dar sinais consistentes de recuperação. Com estímulos fiscais e monetários sendo injetados em setores estratégicos, como infraestrutura, habitação e indústria de base, o governo chinês tenta reaquecer a economia e restaurar a confiança do mercado.

Essa retomada tem relevância direta para o Brasil. Como principal parceiro comercial da China na América Latina, o país depende, em grande parte, da demanda chinesa por commodities metálicas e agrícolas, que compõem a espinha dorsal da balança comercial brasileira.

Se a segunda maior economia do mundo volta a crescer com mais força, o reflexo imediato é uma elevação na demanda por minério de ferro, soja, milho, carnes e outras matérias-primas — o que tende a impulsionar os preços internacionais e favorecer exportadores brasileiros.

Além do impacto sobre o setor externo, essa dinâmica pode trazer ganhos para empresas brasileiras listadas em bolsa, especialmente nos segmentos de mineração, siderurgia, papel e celulose, e agronegócio. É um efeito positivo duplo: melhora nos resultados corporativos e valorização das ações vinculadas ao ciclo de commodities.

Outro ponto relevante é a diversificação de risco global. Em um cenário em que os EUA enfrentam juros elevados e a Europa lida com estagnação econômica, a China representa uma possível âncora de crescimento para os emergentes. Para os investidores brasileiros, esse contexto reforça a importância de acompanhar indicadores chineses — como produção industrial, volume de importações e política de estímulos — que, embora distantes geograficamente, exercem influência direta sobre os ativos locais.

Atenção ao setor imobiliário chinês

Por fim, vale destacar que a retomada chinesa não está isenta de riscos. A fragilidade estrutural do setor imobiliário, os níveis elevados de endividamento e a desaceleração demográfica são fatores que limitam a velocidade e a profundidade dessa recuperação e podem gerar revisões nos volumes importados de commodities..

Ainda assim, o momento sinaliza uma janela de oportunidade para o Brasil se beneficiar do crescimento asiático, especialmente se souber alinhar competitividade, diplomacia comercial e estratégia de longo prazo.

A MGC Holding

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